São João Baptista




GIAMPIETRINO (chamado GIAN PIETRO RIZZI)
A Virgem Amamentando o Menino e São João Batista Criança em Adoração
Óleo sobre tela, 86 X 88 cm., 1500-1520
Museu de Arte de São Paulo

Obra

O tema da lactação virginal ou da Virgo lactans, representado já no século II na catacumba de Priscilla, é o mais antigo na iconografia mariana. A sua fonte literária é Lucas 2, 27, reiterada em Santo Agostinho ("Intumescunt ubera Virginis et intacta manent genitalia Matris"), mas as suas origens são pré-cristãs e remontam ao grupo egípcio de Isis Amamentando Harpócrates, cristianizado posteriormente pela arte copta (Réau 1957, II, p. 96).

A obra faz emergir com habilidade de um fundo escuro personagens saturadas de sfumato leonardiano. Detectam-se com não menor evidência na invenção cénica componentes típicos das Virgens de Leonardo. O Menino Jesus, por exemplo, está em posição invertida em relação ao Menino da assim chamada Madonna Litta, do Hermitage, datada em geral de c. 1490, enquanto a paisagem fantástica entrevista pela janela, com suas montanhas e atmosfera extraterrenas, é de um leonardismo ortodoxo. De modo geral, Giampietrino vale-se de motivos bem estabelecidos na tradição quatrocentista: o piso ladrilhado que escande com metro preciso a sucessão em profundidade dos planos, a janela que introduz a paisagem em contraponto ao cubo espacial, e o cortinado, com sua simbologia cênica diversa. A coluna decorada com folhas de parreira é supostamente alusiva ao mistério da Eucaristia e, como a cruz abraçada por São João Batista, prenuncia misticamente o sacrifício.

É notável o fato de que a figura e a posição da Virgem são praticamente idênticas a uma obra de mesmo tema, conservada em Highnam Court, Gloucester, na Inglaterra, a qual Ottino della Chiesa (1967, p. 113) atribuiu hipoteticamente também a Giampietrino. Segundo Suida (apud Ottino della Chiesa), a obra, gravada em 1691, derivaria de um modelo perdido de Leonardo da Vinci, datada de c.1490. A obra do Masp, por sua composição mais distendida e pela caracterização mais narrativa das personagens, além de não poder ser considerada uma derivação stricto sensu de Leonardo da Vinci, deve ser datada de um momento mais tardio, possivelmente por volta dos anos de 1500-1520.

O Artista

Contemporâneo ou ligeiramente mais jovem que seus compatriotas Bergognone (ativo entre 1481 e 1523), Giovanni Boltraffio (1467-1516), Andrea Solario (1468/1470-1524), Marco d�Oggiono (c.1475-1530?), Cesare da Sesto (1477-1523) e Bernardino Luini (1480/1485-1532), Giampietrino pertence a toda uma geração de pintores lombardos profundamente influenciados pelas longas estadas de Leonardo da Vinci em Milão. A primeira menção ao artista é feita pelo próprio Leonardo que designa um certo "Gian Pietro" como seu discípulo, no manuscrito denominado Codice Atlantico (Richter 1883), a se datar, segundo Pedretti (1979), dos anos de 1497-1500. Uma outra menção não surge antes do Tratatto dell´Arte della Pittura de Lomazzo (1584), que recorda um Pietro Rizzo Milanese. O primeiro núcleo de obras relacionáveis à atividade desse pouco conhecido discípulo direto de Leonardo remonta ao inventário da Galeria de Ambrogio Mazenta, do século XVII, no âmbito do qual apenas uma obra, o retábulo da igreja de San Marino, em Pavia, traz uma data segura: 1521. Diversas obras de tema sacro- sobretudo representações da Sagrada Família, de Sacras Conversações, da Madalena e da Paixão de Cristo (Marani 1987, pp. 199-213)- distribuem-se em igrejas e museus lombardos, enquanto não menos recorrentes são certos temas de cunho mitológico e profano, tais como a Cleópatra do Louvre e a de Oberlin, inspiradas na Leda de Leonardo (Moro 1987, p. 727 ). A cópia da Última Ceia, conservada na Royal Academy de Londres, recentemente restituída a nosso pintor (Shell, Brown, Brambilla Barcillon 1988 ), situa-o entre os pintores lombardos de mais inspirada e estrita observância leonardiana.

Texto extraído do
Catálogo do Museu de Arte de São Paulo
Coord. Luiz Marques
São Paulo: Ed. Prêmio, 1998.

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